Angola nunca esteve tão mal. Nem mesmo no tempo de partido único e no do pico da guerra, se assistiu a um desnorte e roubalheira descarada, por parte de uma minoria de dirigentes e governantes, ligados ao partido no poder que ocupa desde 1975. Eles, felizmente, para as contas futuras, estão politicamente localizados no mesmo endereço: MPLA, partido no poder, nº 1, largo dos ministérios, Luanda.
Por William Tonet
Os poucos dirigentes honestos, no seu seio, imunes ao roubo e ao dinheiro da corrupção, são uma espécie em vias de extinção, quais herdeiros do Titanic n.º 19752017, num futuro próximo, que auguramos seja pacífico…
Os “engenheiros da ladroagem”, no universo dos 25 milhões de angolanos, segundo o censo de 2016, representam 0,5%, mas são responsáveis pela delapidação dos cofres públicos, numa quantia avaliada em mais de 100 mil milhões de dólares (100 biliões de dólares), nos últimos 15 anos.
Como e quando começou a monstruosa roubalheira, infelizmente, mesmo os mais fanáticos do MPLA, hoje, não têm dúvidas; depois da morte de Jonas Malheiro Savimbi, em 2002, que servia de tampão às intenções maléficas e ao roubo descarado do dinheiro público, dos falsos proletários, que um dia aldrabaram as populações com o slogan: “O mais importante é resolver os problemas do povo”, cuja tradução na língua “emepelanês” significa; “O MAIS IMPORTANTE É ROUBAR O DINHEIRO E BENS DO POVO”.
Savimbi, enquanto guerrilheiro, tinha defeitos, sendo um deles, não acreditar numa paz com a actual facção do MPLA, que considerava talhada na arte da batota, da fraude e, na ânsia de preservar o poder, não se coibir de alianças até com o DIABO, mas tinha uma virtude, não era ladrão da coisa pública, nem corrupto (contrariamente aos políticos no poder, não acumulou contas bilionárias e milionárias em paraísos fiscais, não é proprietário de mansões e herdades no exterior, nem sociedade com os ex-racistas brancos sul-africanos como muitos dos actuais dirigentes no poder).
O desapego aos bens materiais faziam de Savimbi um opositor temeroso, interna e externamente, face às convicções patrióticas de defesa da maioria dos autóctones pobres: “Primeiro os angolanos, segundo os angolanos, terceiro os angolanos, os angolanos sempre”…
Não fosse assim e, quem sabe, a partilha da riqueza nacional, entre UNITA e MPLA, seria total e adiaria a sua morte, cunhando não só um acordo “contra-natura” mas também o saque total.
Hoje, o vazio de Savimbi continua por preencher, face à opacidade da oposição, refastelada com as mordomias parlamentares, não mugindo nem tugindo, não só ante a fraude e a batota eleitoral anunciada, capitaneada pelo gabinete presidencial, mas também em relação aos violentos e assassinos desvarios das forças policiais e militares, contra as zungueiras, os ambulantes, os taxistas, os jovens, os intelectuais livres da sociedade civil e a maioria dos pobres. Contra o Povo, em suma.
A maquiavelice do regime “oferece-lhes” a Constituição, as leis e os tribunais, para se deleitarem, enquanto a caravana dos ladrões e assassinos desfila sem paragem, nos controlos policiais, mesmo andando em sentido contrário.
Esta é a situação que nos coloca no precipício de uma crise, sem luz no fundo do túnel, uma vez a sua origem não derivar, como verificamos, só da baixa do preço do petróleo, mas sim da alta dos custos de uma “gatunagem revolucionária” do dinheiro público, magistralmente, desviado do seu objecto principal (servir os cidadãos, principalmente, os mais desfavorecidos), para engordar as contas de uns poucos “assassinos financeiros”.
A oposição não se dá conta estar no papel ridículo de aplaudir o teatro de fantoches cujos actores são o porco e o javali, onde as leis valem o que nada valem, os juízes fingem que julgam, mas violam as normas jurídicas e os tribunais, são, na maioria, um antro dos malandros juridicamente identificados, que absolvem os assassinos e os “gatunos de colarinho branco” alojados nos corredores do poder.
Este quadro irresponsável, responsavelmente engendrado, coloca Angola no epicentro de um precipício, onde se encontra um dicionário com a inversão do significado do nepotismo. Este (dicionário), legitima, a omissão geral de todos, ante a colocação exclusiva, do Fundo Soberano do Petróleo (Zenú dos Santos) e da Sonangol (Isabel dos Santos), ambos responsáveis por mais de 88% das receitas do Produto Interno Bruto, mais os bancos comerciais, nas mãos dos filhos do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, como se Angola fosse uma monarquia hereditária ou um reino unipessoal.
Será que não é?
Os actos incriminam.
Tanto assim é que o Titular do Poder Executivo prefere penalizar o país, a economia, os empresários, os bolseiros, os cidadãos, do que exonerar os filhos, “nepotisticamente” alcandorados aos órgãos de controlo da riqueza nacional, para que a Reserva Federal dos Estados Unidos, equacione o (re)forneciomento regular de dólares a Angola.
Por tudo isso é preciso agir. É preciso tudo fazer para não se continuar na mesmice, logo, a oposição terá de adoptar uma cartilha de credibilidade junto do eleitorado, principalmente dos descrentes e indecisos, incitando-os através da apresentação de programas e propostas consistentes de governação, para o seguinte:
a) Coligação entre os principais partidos políticos, com projecto de poder, visando o objectivo maior: derrube do partido das injustiças, da corrupção e da roubalheira institucional;
b) Convencimento aos eleitores, para votarem em consciência e não com o coração;
c) Abandonarem os gabinetes e a Assembleia Nacional, caso a Presidência da República, na ausência de um órgão eleitoral independente, não aceite emprestar transparência, quer no FICRE, como em todo processo final (como apuramento e contagem municipal), instalando-se de forma pacífica e de acordo com o art.º 47.º da Constituição, nas ruas (vide Venezuela) até que se desmanche a batota eleitoral ou se aceitem boletins de votos, com código de barras (quem vota fica com um canhoto codificado, igual ao depositado nas urnas), para inviabilizar a votação de militantes dos partidos aliados do MPLA (moçambicanos, são-tomenses, cabo-verdianos, congolenses, equato-guineenses, entre outros), numa arquitectura da fraude, já exibida num programa em directo da TPA, onde foi vencedor uma cidadã de São Tomé e Príncipe…
Só a concertação de objectivos, quem sabe, poderá legitimar uma ajuda do presidente americano, Donald Trump, não para lançar uma nova “mãe de todas as bombas”, como a descarregada no reduto central do DAESH (Estado Islâmico) no Afeganistão, mas com o seu poder de influência, exercer uma forte pressão diplomática sobre o regime angolano, que pode ir do bloqueamento das bilionárias contas bancárias dos dirigentes, no exterior, a restrição de movimentos, a abertura de processos judiciais internacionais, os mandatos de captura, entre outros.
Isso poderá evitar a continuação descarada da batota eleitoral, da colonização, da exploração desenfreada, da corrupção, das injustiças e dos assassinatos de inocentes, por parte de um regime cujos métodos, muitas vezes, se aproximam dos do Estado Islâmico.
É preciso higienizar intelectualmente os políticos angolanos, para o país não correr, de novo o risco, de face à descrença, cada vez mais generalizada, da força do voto, das leis e da independência das instituições do Estado, o cidadão comum, o pobre, o descamisado, o sem voz, o sem esperança, acreditar que só através de novas formas de luta, inclusive, a armada, garanta a alternância de poder, caso contrário os que há 42 anos (des)governam Angola e os Angolanos, continuarão, “batoteiramente”, calcinados no poder.
Se os angolanos continuar assistir impavidamente o que se passa no pais, ninguém o fará no nosso lugar. Efectivamente a comunidade internacional nunca há de substituir os angolanos para obrigar o bando de vigaristas que estao no poder desde 1975 abdicar-se do poder.
Dai que os angolanos devem parar pelo menos um minuto para reflectir olhando para o passado, o presente e observar que tipo de futuro esta a nossa frente.